domingo, outubro 07, 2012

PREC 1974-76: os comunistas ao assalto do poder

Em Agosto de 1974 alguns empresários tentaram lançar iniciativas económicas apesar do clima revolucionário que se desenvolvia em modo acelerado num autêntico processo revolucionário em curso para o socialismo. O Expresso de Agosto desse ano noticiava assim a iniciativa:


De repente, em poucos meses, as pessoas em Portugal tinham à sua disposição uma grande oferta de livros, revistas e jornais que veiculavam as ideias de Esquerda comunista. 
Os livros, raros, que procuravam explicar os acontecimentos recentes à luz da ideologia do regime anterior, eram subalternizados por essa literatura que se impunha ao leitor desprevenido. O livro de Marcelo Caetano, Depoimento, foi completamente cilindrado pelas inúmeras obras sobre o "comunismo científico" ( , incluindo uma tradução do russo ( por André Gaveto) do livro de P.N. Fedoseyev, "O comunismo científico e os seus falsificadores", publicado em Novembro de 74 e ainda outro pequeno livro com citações de Marx, Engels e Lenine, "O socialismo científico". publicado na mesma altura pelas edições Avante.  Todos estes livros "científicos" são susceptíveis de ser encontrados em feiras da ladra ou do livro, actuais.
Um dos primeiros livros a ser publicado ( logo em 15 de Maio de 1974, sendo tradução de uma edição de americana- o autor era professor na Universidade de Santa Bárbara, California- de 1967, intitulada Today´s Isms) )  com intuitos didáticos ( o livro era apresentado como "um pequeno manual de ciência política"),  foi este:


Neste panorama geral da imprensa era quase impossível conter a vaga do PREC, para gáudio de muitos que agora se espraiam em comentários nos media sobre economia e política, como por exemplo um Pacheco Pereira.
O  único jornal "resistente" a esta mudança de paradigma social e político era o Bandarra, dirigido por Manuel Múrias que depois fundaria A Rua. O Bandarra foi literalmente queimado na rua, pelos contra-manifestantes do 28 de Setembro de 74 e na sequência da onda de prisões que então se realizaram, dos "numerosos fascistas", como Artur Agostinho, num episódio já aqui contado.

Assim, a inciativa do MDE/S, de alguns capitalistas portugueses que ainda faziam que acreditavam no futuro económico do país, em termos ocidentais e europeus ( nenhum outro país, nesses anos, passou pelo que nós passamos enquanto nação a caminho do socialismo e da sociedade sem classes, proclamada na Constituição de 1976) ia contra a maré, porque a onda era esta, como se escrevia no Diário de Lisboa de 12.7.1974, num artigo de Eugénio Rosa ( ainda anda por aí...):

Em 31 de Agosto, o conhecido Vítor Constâncio, um dos pais da nossa desgraça ( o descalabro do BPN ficou a dever-lhe tudo em omissão) reconhecia ao Sempre Fixe que já estávamos mal e a caminho do pior porque a fuga de capitais aliada ao aumento dos preços das matérias- primas e do petróleo, mas a quebra das receitas do turismo ( a visita de Sartre e Moustaki pouco trouxe de significativo ao turismo nacional...) iria ter consequências graves a breve trecho.  Como teve e Constâncio já sabia, mas era socialista. Democrático é que ainda seria duvidoso.

Neste contexto de crise económica estabelecida e para durar por muitos e bons anos ( de facto, até agora, como se verifica, porque as raízes profundas do nosso atraso em relação à Europa e à Espanha em particular, estão aqui mesmo nesta época de alguns meses dominada pelo PCP e a Esquerda em geral), o que se fazia em Portugal? O PREC, voilà. A luta a caminho do socialismo e da sociedade sem classes, ideia utópica em que enfileirou muita gente, com capacidade e juízo para pensar melhor.
Em Março de 1975 deu-se o culminar do PREC económico com o início do processo das nacionalizações, etapa-chave daquele caminho para amanhãs a cantar e que hoje, afinal,  choram ou gritam contra a "troika".  Já nessa altura, o dinheiro passou a ser do povo, tal como hoje querem os syrizas e comunistas. Os socialistas, esses contentam-se com a sua fabricação, "sempre que for preciso".


Os media e a imprensa em geral , em 1975 era quase tudo socialista ou comunista, sem grandes excepções e veiculavam todos os dias estas ideias. Em Maio de 1975 apareceu O Jornal, dirigido por jornalistas em organização tipo cooperativa. De Esquerda "democrática" como então se dizia,  mas sempre aliados dos comunistas na luta contra o capitalismo, sistema execrado e vilipendiado pelos mesmos.

Para se perceber quem eram os jornalistas mais importantes de então e onde estavam é ler est artigo de O Jornal de 16.5.1975 ( o nº 3 do O Jornal, dirigido então por Joaquim Letria):

Pode dizer-se então que andavam todos embriagados em revolução? Nem tanto, porque os comunistas e syrizas também tinham os seus economisas formados nas escolas "burguesas" e é por isso que na revista O Tempo e o Modo de Outubro de 1974, dirigida então pelo MRPP, vinha assim um artigo, onde se reconhecia o dealbar do descalabro que nos atingia já nessa altura:

E tal adiantou o quê, afinal? Mudança de rumo, porventura? Qual quê! O PS avisava logo em Janeiro de 1975 que não contribuiria para a instauração de uma "democracia burguesa"!  Mas já se preocupava com a "unicidade" e a "unidade" sindical...


Portanto, nos meses que se seguiram, em rompante crise económica, em vez se se resolverem esses problemas, com um regresso ao sistema de produção de bens capitalista e apoio aos empresários que tinham capital para investir, deu-se o contrário, com todo o apoio da Esquerda alargada: aprofundamento da luta ideológica e política, como se pode ler na pequena história do jornal República, um feudo socialista, dirigido por Raul Rego e com redacção escolhida em conformidade. O problema era que os "gráficos" da tipografia eram de outra seita e o partido estava empenhado em manter as "amplas liberdades", desde que fossem todas sintonizadas com o ideário do comité central...
 A história suscitou em Maio de 1975, o interesse do Jornal Novo, dirigido por Artur Portela Filho, uma lufada de ar não comunista nem socialista no panorama abafado da imprensa portuguesa da época ( José Saramago, como se pode ler acima, já tinha tomado conta do Diário de Notícias ou estava prestes a fazê-lo).

Mário Soares, sempre o mesmo kerenski, lamentava-se então profundamente no mesmo jornal, da "discriminação"...e foi esse sentimento que o animou provavelmente a abrir mais os olhos e lutar contra o PREC comunista e que desembocou no 25 de Novembro desse ano de 1975. A luta de Mário Soares tem assim uma explicação: sobrevivência política, acima de tudo. No entanto, o mito de "pai da democracia" parece que continua a frutificar nas sendas do actual regime e leva à condescendência geral para com o putativo.


Passado o 25 de Novembro poderia a situação no país ter tomado outro rumo económico?
Poder, podia, mas...mas não seria a mesma coisa e o PS não deixou. Tomou as rédeas do poder e como ainda acreditava que poderíamos caminhar para a tal sociedade sem classes ( aprovou assim a Constituição e não deixou que lhe mexessem durante mais de dez anos), a situação económica ficou assim, logo em 1976, como conta Francisco Sarsfield de Cabral ( ainda comenta nas tv´s) no O Jornal de Maior de 1976:


Perante este quadro negro da economia, o mesmo Sarsfield e outros podiam ter contestado o regime que caminhava alegremente para a sociedade sem classes, mas não. Não o fizeram então e contentaram-se com este panorama retratado já no mesmo O Jornal de 5 Janeiro de 1976:




 Portanto, em conclusão: temos o que merecemos? Temos aquilo que alguns merecem, sem dúvida. Mas não aquilo que um povo todo merecia.
E quem nos atirou para este buraco anda por aí, governa, quer voltar a governar e não há ninguém com autoridade, mormente o povo em eleições que lhes diga: BASTA!
E principalmente não há ninguém que conte ao povo, com clareza suficiente o que se passou em 1974-75 para que a História não se volte a repetir. Agora como farsa, pelo que estamos a assistir ( até Pinto Balsemão já declarou estes dias que estamos a viver tempos parecidos com o PREC).

Haja alguém que diga claramente nas tv´s que os comunistas fizeram isto que temos à vista e querem voltar a fazê-lo e que para os mesmos e os syrizas o princípio antigo continua válido: quanto pior Portugal estiver, melhor para eles. 
E como a agit-prop sempre deu alguns resultados é isso que andam a fazer: a agitar as massas para conseguir maior poder. Por enquanto um poder "burguês", mas depois um poder popular que foi sempre isso que desejaram e nem o escondem sequer.

Questuber! Mais um escândalo!