segunda-feira, janeiro 28, 2013

A pequena história de um crime impune


A revista Tabu do jornal Sol trazia na semana passada este pequeno texto sobre um crime do PREC: o assassínio de Alexandrino de Sousa, um militante do MRPP que terá sido morto por elementos da UDP durante o Verão Quente de 1975. O crime é fácil de enunciar: o bando de militantes da UDP, cerca de 60, na Praça do Comércio em Lisboa, sairam de carrinhas, munidos com barras de ferro e empurraram a meia dúzia de militantes do MR que tinham a ousadia de lutar contra o que apelidavam de "social-fascismo". Foram sendo empurrados até ao cais das colunas onde o Tejo marejava. Alexandrino não sabia nadar e apesar de ter gritado tal coisa foi literalmente empurrado pelos valentes da UDP que o afogaram, assim, porque deviam saber que quem não sabe nadar pode afogar-se se não for socorrido.
É esta a história que Luís Osório conta e não sei se o processo crime conta a mesma coisa. O que não conta, porém, é quem matou Alexandrino de Sousa concretamente. Quem foi o ou a, os ou as, valentes que o empurraram para a morte certa que sabiam iria ter lugar naquelas circunstâncias.
Os assassinos não foram descobertos mas como eram várias dúzias devem saber muito bem quem são, ainda hoje.
Não se acusam, está bom de ver e quanto a remorsos relegam provavelmente esse incómodo para a noção vaga de "excessos revolucionários", de modo que provavelmente ninguém se sentirá culpado de coisa alguma. Se o Alexandrino fosse filho, pai ou parente deles, provavelmente saberiam muito bem quem foram os culpados. Assim...
Na Universidade de Coimbra mandava a UEC, a secção estudantil do PCP, de que fazia então parte Vital Moreira e outros.
Nas cantinas da universidade costumavam passar música ( boa música por sinal, mesmo a revolucionária) do rádio universitário, que ecoava nos altifalantes das cantinas enquanto se almoçava ou jantava. Curiosamente, nesse dia ou a seguir, uma das músicas que passaram insistentemente foi um velho êxito de Sérgio Godinho, "Aprende a nadar, companheiro!"
Sim, há quem se lembre...

ADITAMENTO em 29.1.2013:

Alertado por uma ligação mostrada por um comentador, aqui fica o comunicado surreal do MRPP da época em que Durão e Rosas e Matos mais companhia só juravam pela revolução de livrinho vermelho na mão de semear discórdias:

Alertado pelo assassinato terrorista do camarada José Alexandrino de Sousa (António), o Comité Central do Movimento Reorganizativo do Partido do Proletariado (M.R.P.P.) reuniu em Sessão Plenária de emergência às 6 horas de hoje, em Lisboa.

O Comité Central examinou o significado e as consequências políticas do assassinato terrorista do camarada Alexandrino de Sousa, levado a efeito por um bando armado de social-fascistas do grupelho provocatório do O.R.P. «C.»/U. «D. P.», e aprovou as medidas que o caso requer.

O camarada Alexandrino de Sousa era militante da gloriosa Federação dos Estudantes Marxistas-Leninistas (F.E.M.L.), organização do nosso movimento para a juventude comunista estudantil. O camarada Alexandrino de Sousa era Director do jornal «Guarda Vermelha», órgão central da F.E.M.L..

O camarada Alexandrino de Sousa foi barbaramente e covardemente assassinado, quando procedia à afixação de cartazes convocatórios do Comício de Homenagem ao camarada Ribeiro Santos, assassinado em 12 de Outubro de 1972 por fascistas e revisionistas.

O bando de social-fascistas da O.R.P. «C.»/U. «D. P.» feriu outros 5 camaradas de Alexandrino de Sousa, um dos quais se encontra hospitalizado em perigo de vida.

O camarada Alexandrino de Sousa foi um verdadeiro quadro servidor do povo e infinitamente fiel ao marxismo-leninismo-maoismo e à linha vermelha do nosso movimento.

O Comité Central, ciente de interpretar os elevados sentimentos revolucionários do proletariado e do povo português, presta a sua firme homenagem ao jovem militante caído no campo da luta, exprime a sua dor aos familiares do camarada Alexandrino de Sousa, muito especialmente a seu pai e sua mãe, e exprime à Federação de Estudantes Marxistas-Leninistas e seu comité «Estrela Vermelha Ribeiro Santos» vivos sentimentos revolucionários.

O Comité Central conclama todo o partido a unir-se como uma rocha de granito e a cerrar fileiras com as amplas massas populares, de modo a que, apoiando-se no exemplo de coragem, abnegação e firmeza Bolchevique do nosso querido camarada Alexandrino de Sousa, possa vingar a sua memória.


A LUTA É DURA, MAS NÓS NÃO VERGAMOS!
HONRA AO CAMARADA ALEXANDRINO DE SOUSA (ANTÓNIO)!
ALEXANDRINO DE SOUSA - RIBEIRO SANTOS, O MESMO COMBATE!
VIVA A LINHA VERMELHA DO NOSSO MOVIMENTO!
VIVA O PARTIDO!
9 de Outubro de 1975

O Comité Lenine, Comité Central
do M.R.P.P.

 E mais outro, no jornal Luta Popular:

José Alexandrino – Ribeiro Santos,
O mesmo combate!

Hoje mais um filho do povo, mais um camarada nosso, foi cobardemente assassinado por cerca de 60 rufiões da mafiosa U“DP” – ORP “C”“ML” e por certo de outras organizações da mesma índole.

O camarada Alexandrino, juntamente com mais cinco camaradas, respondendo ao Apelo à Esquerda, procedia à colagem de cartazes para transformar o 12 de Outubro – dia do assassinato do heróico camarada Ribeiro Santos – numa gigantesca manifestação de força da Linha Vermelha do nosso Partido.

Cercados, os nossos camaradas recusaram arrancar a propaganda que haviam acabado de colar, resistindo valentemente às bárbaras agressões de que foram vítimas.

Perante um tão grande comportamento, perante a demostração de tamanha força política e moral, ante o espírito de partido afirmado, coisa nunca vista nas suas hostes mafiosas – os neo-revisionistas arrastaram os camaradas para o rio, em cujas águas revoltas pereceu José Alexandrino de Sousa director interino do órgão central da FEML, usando na organização o pseudónimo de António.

O nosso camarada não morreu em vão. O seu exemplo vai contribuir para unir toda a esquerda dentro e fora do nosso Partido afim de esmagar a contracorrente reaccionária que expressa precisamente os mesmos pontos de vista políticos e ideológicos dos seus verdugos. O seu sacrifício é uma contribuição importante para a fundação do Partido e foi isso que em desespero de causa levou estes bandidos a assassiná-lo. Bandidos que o povo não tardará esmagar com as suas próprias mãos.

O camarada Alexandrino não morreu em vão, o seu exemplo de autêntico comunista vai trazer às nossas fileiras um número crescente de filhos do povo prontos a pegar na bandeira vermelha que ele agitou.



Luta Popular nº 113
Sexta-feira, 10 de Outubro de 1975  


Agora só falta saber quem eram os outros cinco camaradas "bolcheviques" e particularmente a que respondia por nome feminino e que papel teve na contenda. A sério e sem surrealismos. Espero que Ana Gomes esclareça. Ou o advogado Garcia Pereira, que precisa de contar uma história melhor que esta, segundo se poderá depreender de depoimentos de quem saberá melhor. É que a história dos "social-fascistas" da UDP, pelos vistos é demasiado aperfeiçoada e simplista. Venha outra história mais concreta e definida que precisamos de saber se Garcia Pereira viu o que aconteceu, ou seja, se estava lá e se não estava quem estaria e o que fez, concretamente. Precisamos de saber concretamente duas coisas: quem sugeriu que os "camaradas bolcheviques" se atirassem à água gelada do Tejo. Se foram as barras de ferro e as ameaças dos energúmenos social-fascistas da UDP ou se foi o zelo revolucionário do martírio anunciado. 
É uma questão simples de enunciar, perceber e perguntar a quem sabe muito bem o que sucedeu naquela noite: foram os social-fascistas da UDP que empurraram Alexandrino para a morte ou foram os próprios camaradas que incentivaram o mesmo a mergulhar num enlevo de loucura que não seria nada de extraordinário naquele tipo de gente? 
É que a diferença que vai de um assassínio a cargo do social-fascismo ou um homicídio incentivado por uma loucura pode ser muito grande e não adiantam os sofismas que se podem apresentar em olhar só para os agressores social-fascistas se não se olhar também para o que fizeram as vítimas em concreto e motivadas por quem, em concreto. 
   
Que gente... imagens do funeral tiradas daqui:

Para o MRPP estes foram os assassinos. Um "bando dos quatro"...falta saber o que é feito do processo ( provavelmente já destruído se ninguém o guardou como recordação) e da identidade dos acusados e do que lhes sucedeu. Absolvidos, certamente. Como a legenda diz " a lotação da sala de audiência encontrava-se completamente cheia." Pois então haverá muita gente que deve lembrar-se da farsa.

 

207 comentários:

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zazie disse...

Claro que recomendo.

Tenho posts de passagens no Cocanha.

Manuel Pereira disse...

ok, obrigado...procurei na amazon, há uma porrada de livros desse autor..qual deles recomenda ?

zazie disse...

Para o caso- e o caso tem a ver com os mitos que se criaram acerca das "trevas medievais"- aconselho o que disse: A Idade Média uma Impostura".

Explica de onde vêm essas patranhas e como foram divulgadas e se tornaram versão oficiosa.

Claro que depois existem muitos outros excelentes medievalistas.

Mas, neste caso, eu tenho sempre pudor em parecer que estou a "orientar" alguém.

E recomendei o livro, precisamente para chegarem lá por eles.

Tenho pavor a comícios. Nunca diria em trabalho o que digo aqui.

Uma das razões pelas quais ando com nick.

zazie disse...

Mas olhe, se quer que lhe diga, tenho grandes dúvidas que quem já tem a cabeça feita e as versões oficiosas desde o biberão, isso venha a servir para alguma coisa.

Uma das experiências mais frustrantes deu-se com uma amiga próxima.

Acompanhou até levantamentos fotográficos dos estudos que eu fazia- assistiu até à minha defesa de tese. Sempre contei todas essas outras coisas- de marginalia, de mentalidades, que alteram em absoluto a ideia feita das "trevas, do obscurantismo medieval"; da "ignorância religiosa"; da inquisição medieval; das perseguições a quem não era ignaro e fanático.

Pois, há pouco tempo, por qualquer treta de que nem me recordo, mas que tinha a ver precisamente com essa visão jacobina da Idade Média e da Igreja, vai ela e sai-se com esta:

Pois, eu sei, bem que aprendi isso contigo.

Passei-me. Foi chato mas passei-me mesmo e disse-lhe para ela nunca voltar a repetir que aprendeu uma trampa dessas comigo.

Que diga que aprendeu nas sessões de esclarecimento do MFA ou o raio que o parta, mas nunca comigo.

Porque era uma tristeza de depois de morta ainda ficar com a memória de ser mais uma idiota que ensinou e estudo essas "trevas medievais", esse "obscurantismo" que só terminou com o bom do Renascimento- do mundo moderno, da Ciência Moderna.

zazie disse...

Foi mais ou menos isto que o Mujah disse, a propósito de outra versão da nossa História recente.

Mesmo que se conte, não ligam. O som mais forte é o da maioria oficiosa, é o do "lado certo da História", é da respeitabilidade de parecer sempre "anti-facista", mesmo que fascista maior bolchevique.

Aladdin Sane disse...

No passado fim-de-semana contaram-me uma história rocambolesca. Uma tal Rita Alves Costa foi presa numa manif nessa altura, juntamente com o pai, e estava em greve de fome, que aguentou até sair da cadeia. Acto contínuo, terminou a greve de fome... e foi comer uma feijoada. A coitada ficou de coma. Mas felizmente recuperou.

carlos alberto alves disse...

Li tudo com muita atenção e paciência, e não tenho a mínima dúvida que quem escreveu e orientou tudo isto é uma mente perturbada e doente, coloridamente fascista, repito FASCISTA e não fassista, como repetidamente vem escrito.( não sei se o analfabetismo tomou conta desta mente perturbada, embora se alcandore como possível professora não sei de quê, nem de quem, digo eu que sou ou fui operário durante muitos anos )As contradições são mais que muitas, alguma verdades, meias verdades e muita mentira e desconhecimento de factos e de pessoas. Parte dos escreventes ou escrevinhadores, mal eram nascidos, outros nem nascidos eram, apenas foram atrás duma mente doente e perturbada por algo que não lhe terá corrido como desejaria, tal como aconteceu com muitos outros e outras. Noto nessa escrita um ódio visceral,doentio e raivoso por uma pessoa generosa, amiga dos operários e do povo, e não foi Arnaldo Matos que se auto-intitulou de educador do povo, ele sempre negou esse epíteto, antes foram outros que embora posteriormente foram escorraçados do partido, que provocatoriamente lhe aplicaram esse título, título que Arnaldo Matos sempre repudiou, e sou testemunha viva desse facto. As próprias datas em que foram postadas, após tantos anos dos acontecimentos alegadamente tidos com verdadeiros, revelam que algo se terá passado para tanta aleivosia e raiva mal contida. Fora algum tempo após o 9 de Outubro, data do assassinato do Alexandrino, que bem conheci, e eventualmente poderia ter algum cunho de verdade, mas passados tantos anos, senhora Zazie, ou lá o que é, apesar de demonstrar alguns conhecimentos históricos, eles infelizmente serviram para deturpar os acontecimentos, e eu sei do que falo, e trazer na peugada comentários de gente que nada sabe do que aconteceu, apenas leu aquilo que gostava de ler, de acordo com a sua ideologia política, que não tenho quaisquer dúvidas são claramente de inclinação e saudade salazarista ou no mínimo de extrema direita. Não foi por acaso que os cúmplices do assassinato do Alexandrino, entoassem com o maior despudor aquela cantiga do simpatizante da U"D P", Sérgio Godinho, entoada pelo José Mário Branco, "popularmente" cantada pelos alegados assassinos do Alexandrino, e não qualquer conhecimento do epíteto da linha negra, atribuída ao Alexandrino, que conheci e sei que era um excelente militante, aliás, pelas posições de alguns intervenientes na sua mirabolante história, notei que revelam uma lamentável ignorância dos acontecimentos, mas repito, apenas foram atrás da sua história fantástica, em que revela um ódio doentio a tudo o que lhe cheire a esquerda, mesmo que formal, como é o caso da ex- U"DP"e outras muletas, actualmente denominado Bloco de "Esquerda", bem como o P"C"P. Portanto senhora (suponho)Zazie, ( nem sei se é nome )recomendo que recolha a quarteis, consuma-se no seu ódio, e cale-se duma vez, apesar de eu estar a referir-me a uma data 2013, que já vai ficando longínqua, pois só agora me foi dada a ler. Morte ao fascismo, e fascismo nunca mais.

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