sábado, julho 20, 2013

Afonso Costa, Salazar e o passado sempre presente que nos mostra o futuro

Logo a seguir a 25 de Abril de 1974 tornava-se difícil, quase impossível, ler ou ouvir publicamente alguma voz autorizada que trouxesse ao discurso político ideias de senso comum que lembrassem o passado recente vivido por todos.
Quem ousasse recordar ideias de algum modo associadas ao regime anterior, a Salazar ou a Caetano, era ostracizado publicamente nos media dominantes. Os factos lembrados eram apenas os da "longa noite fascista", os da pide, os da repressão, os dos crimes fascistas, os do obscurantismo e analfabetismo em massa, etc etc. Tudo o resto, com algum sentido positivo, era censurado, tal como antes o era ao contrário. 
A televisão deixou de  convidar pessoas ligadas ao regime ou a ideias ao mesmo associadas e restringiu o discurso aos que eram de oposição ou sem ligações evidentes ao mesmo, com algumas, raríssimas excepções, de alguns que logo se chegaram aos senhores do novo regime.

Assim, encontrar publicações que de algum modo permitissem ler o que antes era o discurso oficial, tornou-se cada vez mais difícil, uma vez que chegou a existir uma "limpeza" de obras do "fascismo" em estabelecimentos como as antigas "casas do povo" que rapidamente também deixaram a designação em favor de nomes mais consentâneos com a mudança de paradigma cultural.

Mesmo assim, pontualmente apareciam algumas obras ou opúsculos, geralmente edições de autor que lembravam que o discurso corrente não deveria ser o único e que a censura antiga regressara em modo mais subtil mas não menos eficaz. Deixara de ser uma censura prévia e passar a ser uma triagem prévia feita pelos que criticavam os antigos coronéis reformados. O resultado era o mesmo, com sinal contrário: as obras do antigamente desapareciam dos escaparates; os antigos cronistas deixaram de escrever ou aparecer nos media.

Um opúsculo publicado em 1976, da autoria de um Carlos Camposa, mostra várias coisas: como a História contemporânea pode reservar surpresas a quem a despreza e ao mesmo tempo a lição de uma superioridade moral. Ao contrário dos comunistas que sempre a reivindicaram, as figuras do antigo regime, como Salazar merecem esse estatuto que lhes é denegado pelos Rosas&Pereira da actualidade.

O opúsculo destinava-se a um ajuste de contas sumário com os que fizeram o golpe de 25 de Abril e quem o desvirtuou nos dias seguintes. Como o autor conta no preâmbulo, o salazarismo foi-lhe prejudicial, pessoalmente. No entanto, ainda assim, o autor reconhece-lhe virtualidades que honra os seus protagonistas, como Salazar.
O título "respondendo a Afonso Costa" reporta-se a um episódio, ocorrido no tempo da Ditadura, e comentado por Afonso Costa, o jacobino da I República, exilado em Paris depois de ter profetizado a revolução em Portugal. O comentário de Afonso Costa é de 1933 e Salazar  respondeu-lhe por escrito, numa "nota oficiosa", de Julho de 1934, para desmentir as aleivosias, a propósito de um "grande empréstimo" que Portugal recusou depois de alguns responsáveis nacionais o terem solicitado.

Em primeiro ligar publicam-se as páginas do preâmbulo. Amanhã virá o resto.




8 comentários:

JC disse...

Isto é uma relíquia!
Que preciosidade!
Vou imprimir.
Obrigado.

Vivendi disse...

Excelente partilha José!

Maria disse...

Que maravilha. Parabéns.
Maria

S.T. disse...



Venha de lá,essa «nota oficiosa»...

António Barreto disse...

Publuquei. Interessante seria obter os livros citados na peça.

Portas e Travessas.sa disse...

"Aceitarei reduções nas deduções no dia em que o Governo anunciar que vai reduzir a carga fiscal às famílias."

Disse o leitor do veredissimo dr. em direito

zazie disse...

Que prendinha! quando chegar tenho de ler isto tudo

muja disse...

Incluo-me nos destinatários do opúsculo.

Sem saber quem foi esta pessoa - Carlos Camposa -e sem saber o que viveu e sem, naturalmente, o poder ter vivido; encontra-se, não obstante, o meu pensamento em completa sintonia com o dele.

Não sei se a Juventude actual, entre a qual me encontro por mais alguns - não muitos - anos será capaz de "encetar a obra de renovação", mas ficaria satisfeito se a visse - contribuindo eu com a minha parte - a livrar-se desse "punhado de judas, de cretinos e cobardes", que vilipendiam, traem e renegam, como o vêm fazendo, hão agora quase quarenta anos, a nossa Pátria - e, portanto, todos os que nela vivem, viveram e viverão.

Se "nunca tão poucos traíram tanto e tanta gente", em boa altura estamos já de os correr daqui para fora.
Não sei também se já chegámos "ao Futuro", mas passo a passo lá chegaremos. Este foi mais um. Continuemos pois, porque "cabra manca, não tem descanso".

Obrigado, José.

A obscenidade do jornalismo televisivo