quarta-feira, julho 24, 2013

Salazar e o dealbar do Estado Novo

Prosseguindo na história contada por Marcello Caetano sobre o modo como Salazar chegou ao poder, publicam-se mais algumas páginas do livro Minhas Memórias de Salazar, que Marcello Caetano começou a escrever em Setembro de 1974 quando já se encontrava exilado no Brasil e que foi aí publicado em 1977 e por cá, pela Verbo, em 1985, mais de dez anos depois do 25 de Abril de 1974.

As páginas seguintes relatam como Salazar se instalou no poder e como se  escreveu o projecto de uma nova  Constituição.  Relatam ainda a relação pessoal de Marcello Caetano com o sogro, João de Barros, um republicano.




E como bónus, para se entender em meia dúzia de páginas o que foi o Estado Novo, enquanto conceito inicial, vale a pena ler o opúsculo editado ainda nos anos trinta ( não tem data) pelo Secretariado da Propaganda Nacional, Editorial Império, na rua do Salitre ( perto da actual PGR).
Em vez de ler o Rosas&Pereira vale muito mais a pena ler os textos originais, sem reinterpretações de conceitos que provavelmente nunca entenderam.


13 comentários:

Vivendi disse...

Que grande bónus ;).


Para os que falam que Salazar queria manter o povo burro veja-se a eminência do liceu (com o seu nome) em lourenço Marques e em plano de fundo o pleno desenvolvimento:

https://www.facebook.com/photo.php?fbid=551466368246911&set=a.550453885014826.1073741829.550411321685749&type=1&theater

muja disse...

Os dois primeiros parágrafos da última página do segundo documento que o José aí pôs descrevem o estado actual de coisas.

É espantoso.

É o mesmo filme outra e outra vez.

Mas aqui não são os mesmos que nos governam há trinta ou quarenta anos. São outros. E a cena é a mesma.

Caramba, das duas uma, ou é a democracia ou são os democratas.
Senão como diabo se explica que, passados cem anos, estejamos outra vez nisto?

E o pior é que se enfia a cabeça na areia. Não se está disposto a discutir isto. Como eu dizia no comentário ali abaixo, pior que não haver solução, é nem sequer haver sinal de que se queira procurar.

Há um dogma sagrado que se não pode quebrar, apesar de toda a evidência demonstrar, agora como há cem anos, que está correlacionado com a catástrofe.
É preconceito ideológico. Levam-nos à ruína por casmurrice intelectual.

Que me expliquem isto, os que se dizem democratas!
Como é possível?

Se a causa não a democracia, o que é? Como se explica a correlação?
Em vez de dizerem que é o menos mau e toda a cantiga adjacente, que expliquem porque é que dá invariavelmente para o torto?

Que expliquem como é que um pacóvio bafiento de Sta. Comba conseguiu fazer o que centenas de sofisticados democratas nem nunca estiveram perto de conseguir.

Não estou a provocar. Isto tem mesmo que ser discutido. Tudo o mais é enfiar a cabeça na areia ou assobiar para o lado.

josé disse...

A democracia tal como a entendem estes democratas da oligarquia partidária é uma vaca sagrada.

E percebe-se muito bem porquê: querem assegurar os tachos todos para eles.

O Machete é o melhor exemplo.

Vivendi disse...

É uma banhada completa nos demo-cratas... Até no modelo económico disseram logo ao que vinham.

"A organização económica do país tenderá a realizar o máximo de riqueza socialmente útil. A fórmula óptima da actividade económica é a iniciativa privada. Por isso se enjeitam as soluções estatistas em que se afundam as democracias modernas"

Que clarevidência!!

muja disse...

Cada vez mais penso que esse problema da democracia é dos maiores que temos.

Essa vaca sagrada como lhe chama o José, é invocada para argumentar contra uma série de coisas que importava muito que se fizessem, e até contra um certo discurso que convinha adoptar, de clareza e simplicidade. Abanam-se fantasmas como a PIDE e a Censura, para varrer tudo junto para debaixo do tapete.

O problema é que não são só os da oligarquia. Muito boa gente se deixa levar por esse conto do vigário, e aceita comprar a coisa por atacado. Até quando lhes sai do bolso a preço bem mais alto do que contavam, como agora.
.
Eram esses que eu gostava que explicassem o fenómeno da ruína que sempre vem após a democracia à portuguesa e como podem, perante todas as evidências, sacrificar tudo a essa vaca em nome de princípios elevadíssimos abstractamente mas que, na práctica, manifestamente nunca acabam por traduzir-se em nada de vantajoso e observável para o interesse comum, que é o de nós todos!

Por outras palavras: quanto vale o direito de palrar por aí sem se ser incomodado e botar um papel em caixão, já que, para a esmagadora maioria das pessoas, é do que se trata na práctica?
Vale a ruína de um país? Vale uma emigração forçada? Vale o espectáculo deprimente de uma Assembleia da República?

Qual é o preço de um pedaço de papel em uma urna, de quatro em quatro anos?

Vivendi disse...

Salazar e Maurras em tese doutoral na Argentina

Una tesis doctoral defendida recientemente en la Universidad Católica Argentina examina las fuentes maurrasianas del pensamiento político de Oliveira Salazar. Al ceñir el objeto de estudio a los conceptos de Estado, Nación, Orden y Autoridad, al politique d´abord y al empirismo organizador, este trabajo descriptivo, comparativo e interpretativo sugiere que la influencia de Maurras sobre el estadista portugués es más amplia y compleja de lo que generalmente se cree y pone al descubierto algunas coincidencias remarcables.

La presencia del filósofo provenzal comienza en la preocupación fundamental de Salazar con el orden –de origen Divino y orientado hacia el bien común. Ésta continua en la crítica del Estado demoliberal y el rechazo del Estado totalitario; la necesidad de un Estado fuerte pero limitado, capaz de cumplir su función fundamental –el mantenimiento del orden; un Estado comandado con unidad de pensamiento, de voluntad y de acción, independiente de la opinión y del poder financiero, dedicado al ejercicio de las funciones que le son propias; un Estado bien construído como un espectáculo de orden y unidad, « una obra maestra de la civilización »; la subordinación del Estado a la Nación, base del edificio político salazariano; el intento de restauración de los principios del orden tradicional con un Poder caracterizado por cuatro atributos esenciales –fuerza, independencia, estabilidad, prestigio–, y el establecimiento de cámaras orgánicas de tipo consultivo.

Como Maurras, Salazar concibe la Nación como el valor supremo en el orden temporal. Orgánica y no contractual, obra material y espiritual, realidad tangible y positiva, ella debe ser protegida, aumentada y transmitida. Salazar es consciente que frente a la Nación, el individuo es un deudor neto y nato, ya que recibe infinitamente más de lo que aporta. Entiende que la unidad es un rasgo esencial y fundamento de la Nación y anhela que ésta sea eterna, perpetuada como la familia, mediante la sucesión generacional y la transmisión del patrimonio. «Madre e hija de nuestros destinos», en la expresión de Maurras, Salazar confirma esta doble dependencia: «Somos porque nuestros ancestros fueron; y solamente continuando sus esfuerzos y sus sacrificios somos señores de nuestra tierra y de nuestro destino».

Vivendi disse...

La herencia maurrasiana prosigue en la noción de Autoridad necesaria, fuerza creadora del orden y de toda buena obra humana; un medio y no un fin, una carga y no un privilegio; fundamento de la sociedad. Se advierte la misma tensión entre Autoridad y libertad presente en la reflexión del jefe de la Action française: la fórmula de equilibrio del portugués –«conciliar la libertad posible y la autoridad necesaria»– refleja la noción maurrasiana de «autoridad arriba, libertades abajo». La Autoridad como realidad, «un hecho y una necesidad»; un don de la Providencia; paternal; caracterizada por la unidad –de pensamiento y de acción– para corresponder a la unidad esencial de la Nación; estable en su ejercicio y vigencia; independiente de las facciones, de los «caprichos anárquicos de la opinión», de la influencia de la plutocracia; naturalmente sabia –virtud de la prudencia, saber teórico y práctico resultante del estudio y de la experiencia– y educadora.

En lo que concierne al politique d´abord, se examina la evolución de Salazar, quien, partiendo de una interpretación estricta –y, en consecuencia, un rechazo–, termina por una lectura en sintonía con Maurras y por la aceptación de la validez del principio aplicado a la realidad portuguesa. Respecto del empirismo organizador, se observa que el sistema de análisis empleado por Salazar –pasar revista a la historia patria, examinar las experiencias políticas concretas para de ellas extraer constantes y lecciones fundamentales, las cuales, una vez encuadradas por principios superiores, se transforman en hoja de ruta– corresponde al método maurrasiano.

Maurras fue un admirador incondicional de la obra de restauración moral y material llevada a cabo en Portugal por el catedrático de la Universidad de Coimbra. Dotado de “la sensatez eterna” y de “la antigua sabiduría”, Salazar fue, en las palabras del teórico monárquico, “el modelo a seguir”.

Maria disse...

"Qual é o preço de um pedaço de papel em uma urna, de quatro em quatro anos?"

O preço é a situação degradante a que a 'democracia' nos conduziu sem nos apercebermos. O papel na urna a cada quatro anos serve exclusivamente para a tal 'alternância de poder' (como os democratas adoram chamar-lhe..., é natural, ela beneficia-os a todos por igual lautamente), o que lhes confere todo o direito de sacar uns bons milhões aos cofres do Estado. Com esta armadilha/refrão da 'democracia que trouxe a liberdade' eles, sim - mas atenção, só os pertencentes a partidos autorizados a fazer parte do sistema, como é evidente - terão a total liberdade de ir engordando ano após ano (para não dizer mês após mês) as respectivas contas, já de si obscenamente recheadas.

As repúblicas constitucionais - como bem o demonstrou o Dr. Salazar nos seus escritos, em relação à Primeira República - como regimes, têm por objectivo atingir várias finalidades específicas, entre as quais: enterrar os países em dívidas astronómicas e consequentemente incomportáveis; assaltar contìnuamente os cofres do Estado em proveito próprio sem dar cavaco ao povo; praticar a mega-corrupção com o maior dos à-vontades durante o tempo que lhes for consentido ter acesso à governação; praticar toda a espécie de ilegalidades escudando-se no soez articulado da 'abençoada' Constituição que tudo lhes permite. Claro, esta foi elaborada justamente com esse fim por políticos que são useiros e vezeiros em rapacidade. Aqueles que paradoxal mas criminosamente se auto-intitulam os grandes artífices da democracia e da liberdade.

A democracia, tal como hoje a vemos por aí, é o pior regime de todos os existentes à face da Terra. E não, como afirmou um dia Churchill, o pior regime à excepção de todos os outros. É um regime que, além de pôr populações contra populações e de não raro incitar à guerra, destrói a paz social, provoca infelicidade, tristeza, amargura, desespero e, em mentes muito frágeis, a loucura. Loucura que leva por vezes ao suicídio.
Um regime político que origina tão trágicas consequências, mais do que desumano é maligno e terá forçosamente que ter os dias contados.

muja disse...

Vivendi,

por mais interessante que seja o trabalho académico, acho que não é preciso subir tão alto para se falar deste assunto. Até convém que se não suba, porque me parece que pode e deve ser tratado de forma muito simples.

Isto para dizer que não é preciso ir buscar princípios elevadíssimos de Estado, de Nação ou de Autoridade, quando não caímos no mesmo erro dos democratas, que não se libertam do dogma.

Parece-me a mim que o que interessa é o que se pode designar por interesse comum. Naturalmente, será o interesse comum na Nação, que é Portugal. O problema que se põe, portanto, é saber como garantir que este interesse é sempre salvaguardado.

Dos Princípios, sobre a Assembleia:

«Compõem-na [a Assemblea] noventa deputados, eleitos por sufrágio directo, e pertence-lhe o exercício da função legislativa, (...)»

«Tudo se dispôs em termos de a Assemblea poder produzir trabalho útil, numa atmosfera serena em que não possa sequer evocar-se a vergonhosa tradição verbalista dos parlamentos democráticos.»

Ou seja, o objectivo da Assembleia não representar altos princípios ou filosóficas considerações humanistas, mas realizar trabalho útil, porque é com trabalho e com utilidade que se serve o interesse comum. E, portanto, foi assim que se dispôs.
É ou não é esta uma formulação muito mais adequada que a actual? É preferível ter uma Assembleia a realizar trabalho útil ou a praticar "a vergonhosa tradição verbalista dos parlamentos"?

É isto compatível com a democracia? Se sim, como? Se não, porque não?

Mas isto não se discute porque, de alguma obscura forma, pôr em causa o parlamentarismo actual é pôr em causa a "liberdade". Os srs. deputados agradecem pois assim são perfeitamente livres de dar largas à sua palração tendo como resultado que

"...a oposição, porque oposição, não podia estar de acordo em coisa alguma com o Governo - a não ser em vagos votos de pesar - muitas vezes aconteceu fazer o ministro num dia o que na véspera criticara como deputado. O povo desnorteava-se, e, cansado, encolhia os ombros: «tão bons são uns como os outros».
E era falso: muitos eram piores que tudo; alguns melhores que os outros."

Troque-se o tempo verbal para o presente e cá temos a situação com que nos deparamos diariamente. O povo diz o mesmo que dizia há cem anos: - são todos iguais!

Os democratas - e há-os aqui, e não são tolos nem ignorantes - não se manifestam nestas. É pena porque perdem uma boa oportunidade de esclarecer afinal pelo que são: se pela utilidade de um sistema político ao serviço do interesse comum - que pode ser democrático, mas é preciso discuti-lo, pô-lo em causa e para isso se invoca a sua colaboração; se pela cega idolatria de um conjunto abstracto de princípios, cuja realização práctica, por quaisquer motivos (que também se não discutem), redunda sempre no descrito acima.

Todavia, não pouparão críticas depois de alguém a quem a paciência se esgote decida pôr termo à decomposição da Nação (assumindo que ainda se vá a tempo) e forçar o estabelecimento da ordem sem a qual o trabalho útil não é possível. Naturalmente, na altura ninguém estará para os ouvir, pois a última coisa que alguém a trabalhar quer, é um palrador a moer-lhe o juízo. Sobretudo se antes estava calado. Impôr-se-ão medidas para travar a palração. Gritarão: aqui d'El-Rei (nem isso já, há-de ser um qualquer tribunal dos abstractos direitos do abstracto homem) que me calam! Que manietam a liberdade!

Pudera!



muja disse...

Cara Maria,

eu cá não sei se as ditas democracias têm essas finalidades ou não. Mas admito que haja nelas muitos que trabalhem para as atingir e não é raro contarem-se entre os "maiores", os "grandes" democratas.
O que me parece óbvio é que, ainda que não tenham essas finalidades, são o regime preferido de quem as tem.

Havia de se perceber porquê. E havia de se discutir se é possível ou não é resolver a coisa.
Mas, na verdade, o que observo é que a liberdade dita democrática dá para tudo, menos para discutir a democracia.

Veja que não há um auto-afirmado democrata que se chegue à frente para argumentar. Dantes eram coronéis reformados que censuravam. Hoje, na economia de mercado ultra-eficiente, a censura pratica-se em regime de "self-service"...





José** disse...

Obrigado José.

Unknown disse...

Cumprimento o Muja pela qualidade dos seus comentários. Transparece sempre uma clareza de raciocínio e vontade construtiva para encontrar soluções para o País. A "recta intenção" de que aqui já se falou.
Se algum dia decidir abrir um blog, peço-Lhe que o publicite aqui e terá um leitor muitíssimo interessado.
Miguel D

Vivendi disse...

Eu tb espero pelo blogue do Mujahedin...

Avance meu caro.