sexta-feira, março 28, 2014

Chamava-se José Miguel, o Alentejo o viu nascer...

Tal como Catarina Eufémia, nasceu no Alentejo e era comunista. Em 1961, foi morto por causa disso. Porém, não teve a sorte de ser cantado por Zeca Afonso, como herói e mártir, porque foi considerado traidor e inimigo do povo, pelo Partido.

Uma investigação da jornalista Felícia Cabrita, na revista Tabu do Sol de hoje, dá conta que terá sido o próprio Partido a executá-lo, com dois tiros, ao "traidor", num exercício muito típico de aplicação de uma justiça privada com um código penal particular.  Foi assassinado pelo Partido, tal como outros, aliás, nos anos 50 e 60 do século que passou e por motivos semelhantes: traição. Um crime com pena de morte, abolida em Portugal no início do século XX  e uma prova que o comunismo mata em função de um direito penal privativo que não reconheceu esse avanço civilizacional.

Estes factos, porém, para os comunistas actuais significam quase zero. Em primeiro lugar, por muitas provas circunstanciais que apareçam, serão sempre calúnias e falsidades, engendradas por forças obscuras. Dantes era a CIA, a autora de tais histórias fabricadas para denegrir o sagrado comunismo. Agora é a extema-direita, dos fascistas e reaccionários, como este blog será eventualmente classificado.Uma loca infecta da extrema-direita e fica o caso arrumado, sem mais aquelas.
Os factos para os comunistas são sempre relativos e funcionais. Como Álvaro Cunhal dizia numa entrevista ao Expresso ( Maria João Avilez) em 30 de Março de 1985, "as verdades também são relativas". Absolutas são apenas aquelas que se referem ao fascismo reaccionário do obscurantismo salazarento do Estado Novo. Essas são indiscutíveis porque são dogmas do Partido. O resto não interessa.


O António Filipe e o Bernardino da câmara pensam assim? Que remédio...o que iriam fazer na vida se não fosse o Partido?

Mais uma vez, estas histórias trazem á colação so crimes do comunismo por esse mundo fora, particularmente na Uniãoo Soviética, que Cunhal frequentava e onde era acolhido como um dos "deles", ou seja, um traidor nacional típico e que de bom grado nos entregaria enquanto país, à órbita da então URSS e do comunismo internacional, em 1974-75.

Nessa pátria do comunismo tinha estado, em meados dos anos trinta, um outro herói comunista ( não traiu), Francisco Miguel,  preso no Tarrafal durante um pouco mais de meia dúzia de anos e que foi a Moscovo em 1935 onde passou ano e meio em "formação política". Nessa altura decorriam os tristemente célebres "processos de Moscovo", devidamente denunciados por Krutschev, nos anos 50 após a morte de Estaline, o guia luminoso de Cunhal e outros comunistas portugueses, incluindo os actuais dirigentes. Essa denúncia dos crimes de Estaline foi obliterada pelo PCP como "verdade relativa"...

A revista francesa L´Histoire, de Outubro de 2007. escrevia assim sobre o assunto:


Em Janeiro de 1974, a revista francesa L´Éxpress, a propósito do lançamento do livro de Soljenitsine, O arquipélago de Gulag, de que muitos portugueses nunca ouviram falar, porque os media silenciaram o facto, censurando objectivamente uma notícia de relevo mundial, na época ( precisamente na altura do 25 de Abril de 1974) , publicava estas duas páginas em que se relata um facto que o PCP deve atribuir a propaganda da CIA ou da extrema-direita:  entre 1942 e 1946, os comunistas soviéticos internavam em campos tipo Tarrafal, como traidores á pátria,  os soldados que regressavam da "frente" depois de terem sido presos pelo inimigo nazi, em lugares apropriados a "descontaminação", por entenderem que o simples  facto de os terem capturado, os tornava suspeitos de contaminação pelo capitalismo. A revista, citando Soljenitsine, escreve que a URSS seria o único país no mundo que tinha tratado dessa forma jovens caídos nas mãos do inimigo, mesmo por causa de erros estratégicos de Estaline...o que aliás valeu a Soljenitsine o internamento num desses campos, por ter criticado e gozado o supremo líder numa carta particular escrita a um amigo...e lida pela Tchecka ou o sucedânio ( mas é igual porque para o PCP só há PIDE)


Estes factos e esta História não existe para o PCP e apanigados do Partido. Tudo isto é propaganda anti-comunista que nem merece a menção noticiosa. Nunca mereceu, porque logo nos dias a seguir ao 25 de Abril, o Partido tomou conta do controlo dos media e designou logo para esse efeito o grande Letria que agora preside à SPA ( escrito por ele mesmo no seu livro de memórias a recordar o tempo em que "tudo era possível"). E era, mesmo estas censuras e obliterações da História, alás nunca contada.
 O jornalismo português nunca deu relevo a estes factos e a estas histórias, nem sequer na altura da queda do muro de Berlim, em 1989

Como dizia Cunhal, " as  verdades também são relativas"...porque isto é tudo mentira para denegrir o comunismo. Os processos de Moscovo não correram nada assim. A desestalinização não foi nada disto. Soljenitsine foi um traidor que só não apanhou com dois tidos porque ganhara o prémio Nobel em 1970 e o que contam da exURSS é falso  e calunioso.

É assim que o Jerónimo dirá se lhe perguntarem. Que aliás não perguntam porque os jornalistas portugueses também não querem saber destas coisas. E se os factos forem evidentes e ululantes arranjam uma táctiva velha e relha: apontam para o outro lado e mostram que também mataram e esfolaram...

14 comentários:

Vivendi disse...

O nome dá revista diz tudo. Tabu.

A maioria dos portugueses encontram-se completamente desligados com a história.

Floribundus disse...

no meu tempo da fac (início dos anos 50) os comunas chamavam-nos 'os prós suecas'

eram seres superiores com o monopólio da verdade

infelizmente para eles de quando em quando dizia-se que o pelotão de choque abatera mais um comuna.

dizia-se que o anti-partido desapareceu desta maneira

foi uma pena o barreirinhas ter deixado tantos por abater

Maria disse...

Soljenitsine foi um Herói. Quando muito poucos russos se atreviam a denunciar, por medo, as purgas estalinistas e a revelar o autêntico terror a que o regime submetia o povo, bem como a descrever o verdadeiro inferno que era a vida nos campos de concentração para onde ele próprio havia sido enviado e onde muito penou, este Homem teve a incomensurável coragem de furar a teia assassina que tolhia de pés e mãos o seu querido povo, revelando finalmente ao mundo a vida infra-humana a que durante décadas esse mesmo povo fora submetido no interior dos Gulags, mas também, noutra dimensão, na própria sociedade soviética. Este grande Senhor e ilustríssimo escritor merece uma estátua à altura da sua enorme coragem, absoluta integridade e profundo patriotismo deixados ao seu povo e ao mundo como exemplo do valor humano e em simultâneo, traduzido na sua própria pessoa, o significado das palavras dignidade, heroísmo e patriotismo na sua mais nobre elevada expressão.

Maria disse...

Leia-se "... mais nobre e elevada expressão".

José Domingos disse...

Este tipo de excução, diferia do sistema empregue pela nkvd, que era um tiro na nuca, com o candidato a martir de joelhos.
Depois escrevia-se a história, que tinha sido morto pelos fascistas e blá,blá,blá,blá.

Pinto de Sá disse...

Uma correcção: o José Miguel foi abatido com 3 tiros, e não com 2. O primeiro foi ao braço direito, e os outros 2 foram na cara. Isto é o que conta a reportagem...

josé disse...

Pois, mas os que o abateram foram os dois na cara.

Anibal Duarte Corrécio disse...

O que me impressiona nesta história é os filhos permanecerem no Partido que assassinou o pai.

É preciso ter havido uma decalagem afectiva muito grande para o Partido se sobrepor ao Pai.

Por outro lado não deixo de assinalar os primeiros parágrafos da investigação de Cabrita, pois às vezes temos a tendência de esquecer certas realidades...

O antigo regime não era um mar de rosas, como às vezes certos comentadores querem fazer crer.

Lura do Grilo disse...

"O que me impressiona nesta história é os filhos permanecerem no Partido que assassinou o pai." Verdade Aníbal ...a tal política que denunciar, pais, avós, etc era amor à revolução.

O trajecto do santificado Pavlik Morozov é um exemplo sem par desta ideologia medonha.

Pinto de Sá disse...

José, os tiros que o abateram foram os 3 que lhe deram, mas se quisermos precisar os tiros fatais, também não foram os 2 na cara, mas o único na cara que lhe entrou pelo malar e atravessou o cérebro...
Mas isso são pormenores sem importância.
Mais interessante é de facto a questão da fidelidade dos filhos, mas de que Felícia dá o contexto, descrevendo a identididade daquela comunidade. Ora convém recordar que na URSS de Estaline havia a categoria de "familiar de inimigo do povo" e que, por sistema, esses familiares também eram penalizados - cônjugues para o Gulag ou executados, por não terem denunciado atempadamente os inimigos do povo, e filhos para o orfanato, onde eram proibidos de usar o apelido do pai. Daí que em regra os familiares fizessem um grande esforço de renegação desses laços, e acaso tenham visto o "Sol Enganador 2 - o êxodo" verão esse tipo de cenas muito bem representadas.
Diria por isso que o que efectivamente me admira não é o a família ter continuado comunista, mas sim o assumirem a relação filial. Embora suspeite que só o estejam a fazer agora, no fim de uma vida em que passaram o tempo todo a esconder o facto...

josé disse...

Pinto de Sá:

Imagina alguém, na tv de hoje, seja na RTP ou na TVI e na SIC a falar sobre isto de um modo claro e tal como descreve?

O importante, hoje em dia, para além dos factos que não são ainda conhecidos ( e haverá muitos e piores que estes que agora são relatados) é a omertà dos media.

Comportam-se exactamente como a Mafia: silêncio sobre esses factos que são como que inexistentes.

É isso que impressiona no Portugal de hoje e que me pergunto qual a veradeira razão de tal censura efectiva e pior que a que existia antes de 25 de Abril em que os factos eram censurados mas conheciam-se. Agora nem se conhecem...

josé disse...

A denúncia desta omertà mafiosa é um dos leit-motivs deste blog.

lusitânea disse...

Os gajos do tudo e do seu contrário...

João Nobre disse...
Este comentário foi removido pelo autor.

A obscenidade do jornalismo televisivo