quinta-feira, março 27, 2014

Costa Gomes, 1978: Portugal e o passado

Entrevista do general Costa Gomes ao O Jornal de 30 de Junho de 1978. Tinha então 64 anos e fora presidente da República durante dois anos a seguir a Spínola. Era a primeira vez, nesses dois anos que concedia entrevistas deste género. Vale como uma espécie de testamento político sobre o passado da "descolonização exemplar".
Em 5 de Abril de 1975, na revista francesa Paris Match, o jornalista brasileiro Carlos Lacerda escrevia que alguém lhe dissera,  provavelmente o próprio Spínola que se encontrava no Brasil para onde fugira por causa dos acontecimentos de  11 de Março desse ano  que "A questão é saber se Costa Gomes está ao serviço dos comunistas porque é um deles, ou porque os pretende usar".
Com o tempo, parece que nem uma coisa nem outra. Costa Gomes foi um traidor. Apenas. Embora com boas intenções, daquelas que enchem os infernos, mas que eventualmente ajudaram a salvar Portugal de uma guerra civil que começaria no Norte.

Há uma frase na entrevista que resume todo o drama da "descolonização exemplar" dos Soares, o propalado "pai da democracia" que era o pivot do exemplo político a dar e não apenas de combate ao PCP para manter lugar na política nacional. Por outro lado as entrevistas que deu em 1974, ao Der Spiegel por exemplo ( ver aqui) , denotam bem a falta de sentido de Estado que tinha na época em relação a este assunto e o desprezo objectivo que lhe mereceram os cidadãos nacionais do Ultramar. Dos Almeida Santos, negociador da "paz" com os movimentos que eram terroristas e passaram a ser de libertação, ministro da coordenação inter-territorial nos quatro governos provisórios entre 1974 e Julho de 1975, período crítico deste problema nacional e com entrevistas sempre enguiosas  e quejandos como Manuel Alegre ( enviado especial...), detentores na época do poder político e que deveriam ter má consciência do que fizeram mas ainda se gabam do feito. Sobre os militares de então nem é bom falar, ao lembrar um Rosa Coutinho enfeudado ao PCP.
Diz Costa Gomes que " Se tivéssemos tido umas Forças Armadas realmente dispostas a não permitir a entrada nas cidades de elementos armados dos três movimentos, a descolonização de Angola teria corrido melhor". É isto que deita por terra a ideia de inevitabilidade da fuga em massa e em ponte aérea, com quase nada nas mãos e é isto que permite dizer que Portugal deveria ter feito mais e melhor, porque o poderia ter feito se não fossem aqueles "estadistas" de meia tijela que passsarm 40 anos a usufruir de vantagens que o regime permitiu  se acaparassem, como "pais da democracia", olvidando estes crimes de lesa-pátria, como inimputáveis que são.

A História ainda os não julgou porque os media ( que ainda controlam) escondem estas realidades, mas um dia o fará. Por enquanto as culpas são todas de Salazar, Caetano e do "fassismo". 



Para se perceber o "quadro" das forças políticas nestes primeiros anos, torna-se curioso ver este quadro de O Jornal de 18. 8. 1978. Apesar de predominância de "moderados" quem mandava na rua era o comunismo, incluindo a rua mediática. E os políticos da "descolonização" deixaram-se conduzir pela "rua"."Nem mais um soldado para as colónias" era mote do MRPP. Saldanha Sanches foi preso logo em 1974, ( em Caxias, onde estivera antes durante oito anos)  por apelar à deserção de militares nas antigas províncias ultramarinas, a fim de a "transição" ser mais rápida...
Enfim, foi o mais completo desnorte que os nossos estadistas aludidos souberam gerir do modo e consequências que se conhecem. E gabam-se do feito...


6 comentários:

Floribundus disse...

xico rolha tal como boxexas e outros
perdem o braço esquerdo no dia em que disserem uma verdade

sempre fiquei convencido que até mentem a eles próprios

faz parte integrante dos seus genes

fiquei convencido que o gajo apenas quis salvar o pcp

não têm nada a ver com o milhão de pessoas que regressaram

Unknown disse...

Documento muitíssimo interessante, muito obrigado.
Em jeito de comentário, creio que algum peso na consciência transparece de toda a entrevista.

Miguel D

muja disse...

Ainda não li nada disto, mas por acaso estou a acabar outra entrevista de Marcello Caetano em que se fala deste indivíduo.

Mais logo já a ponho, pode ser que seja interessante para complementar.

E ainda tenho outra onde ele tem mais destaque, mas que vou deixar para depois porque só se fala do 25A em particular e é um bocado tangencial à questão ultramarina.

Maria disse...

Força Mujahedin, publique tudo quanto lhe chegue às mãos, tal como o José tem vindo corajosa e patriòticamente a fazer, que sirva para desmascarar sem lugar para dúvidas a traição à Pátria perpetrada pelo mais perigoso bando de democratas encapotados que, para eterna desgraça de Portugal, um dia tivemos o tremendo azar de consentir como nossos governantes. Este Marechal C. Gomes foi um cobarde, um fingido e um oportunista da mais pura água, que se aproveitou gananciosamente do mais alto cargo político da Nação que inesperadamente o destino, por interposta e traidora esquerda comunista e socialista, lhe colocou nas mãos, traíndo-o sucessiva e miseràvelmente. A Vera Lagoa, que o apodou de tudo e de mais alguma coisa perante os contorcionismos políticos e atitudes dúbias inadmissíveis da parte de um Presidente da República, epítetos que na altura eu até achava (por ingenuidade mas sobretudo dada a minha formação moral que não admite traições sejam elas de que espécie forem) um pouco exagerados porque o achava incapaz de semelhantes tergiversações e porque ainda não tinha uma ideia precisa do quê que a casa gastava, embora verdade seja dita já começasse sèriamente a desconfiar, tinha carradas de razão do modo como o apodava. Afinal todos eles - e mais que tivessem sido - foram merecidos, colando-se-lhe à pele como grude para nunca mais se despegarem.

José Domingos disse...

A ordem qua havia, em relação ao Ultramar, era entregar tudo aos movimentos comunistas, mpla, paigc e frelimo, todo o rest, foi conversa para encher chouriços, estava tudo combinado com a russia os eua e afins.
Houve uma tentativa de criar um partido comunista em Angola pca, ainda antes do 25, os promotores foram todos denunciados á dgs ( a pide, como nome, já não existia)por elementos do pcp. Outro dos motivos para os arquivos da pide/dgs, serem enviados para a russia.
Se duvidas houvesse........

muja disse...

Não sei se a ordem era para entregar aos comunistas.

Até porque, na realidade, comunistas eram eles todos e não era nenhum. Sobretudo, o que eram, era bandidos.

E como bandidos que eram, tomavam o partido do maior licitador.
Era nisto que se baseava a estratégia dos gringos. Capturar a influência sobre a bandidagem, pagando-lhes mais do que os soviéticos.

Foi isso que fizeram com a UPA, depois FNLA.

Quantas vezes o Franco Nogueira os não alertou e se queixou disso... Que só estavam a fazer pior.

Estavam-se nas tintas. Hoje ainda mais.

Bastava que não nos estorvassem e aquilo tinha-se aguentado. Quantas vidas se não teriam poupado. Quanto progresso se não desperdiçaria...

E depois, tanta merda e afinal a URSS colapsou como havia de colapsar.

Os ventos da história cessaram de soprar quando desligaram a ventoinha...