Pois, por mim, faltou o essencial: saber, competência e "outras políticas" como agora dizem os desgraçados que nos desgraçaram já por duas vezes.
Tinham o capital todo do lado deles ( com toda a banca nacionalizada); tinham a faculdade de produzir moeda, fazendo dinheiro; tinham a indústria e serviços mais importantes do lado deles, porque nacionalizados e mesmo assim...bancarrota à vista em 1976 e empobrecimento permanente, com crise económica constante.
Como foi possível tal fenómeno que os esquerdistas preferem esquecer e de que nunca falam? Nos livros do BE sobre os milionários "fascistas" e os "donos de Portugal" nunca falam sobre este estranho fenómeno- et pour cause...
Senão vejamos em concreto e com recortes de imprensa o que se passou até à segunda bancarrota, de 1983.
Em 1975, logo após a nacionalização da Siderurgia e o "ataque aos milionários", Champallimaud que era o génio da empresa, estava a reconstruir o seu império no Brasil, mesmo com crise internacional. A empresa que lhe tiraram cá, essa estava quase falida. Num ano.
Perante a realidade que se lhes impunha perante os olhos incrédulos dos joões martins pereiras e joões cravinhos da época, como é que o falhanço rotundo era explicado?
O Expresso de 20 de Dezembro de 1975 já dava conta do prenúncio do falhanço. O problema era até elencado de modo eloquente: " (...) A análise económico e financeira, da tributação sobre os lucros, da negociação mercantil dos acordos colectivos de trabalho (...) parecendo tecnicamenre inofensivos, constituem- a menos de reformulação e adaptação ponderada e orientada por critérios de âmbito nacional- significativos mecanismos reprodutores de um sistema incompatível com uma fase de transição para o socialismo".
Ou seja, com esta novilíngua que passou a ser norma jornalística, pretendiam explicar o inexplicável e esconder as contradições com o almejado socialismo e a realidade das empresas que já eram tantas que até dá dó pensar como essa gente nem pensou nisso- antes...
Por outro lado, em 1983 não era só a Siderugia que estava falida. Na realidade, estavam falidas TODAS as empresas públicas nacionalizadas e roubadas ( porque não indemnizadas) aos patrões que eram os tais "donos de Portugal". Os novos "donos de Portugal" deixaram falir tudo. E ninguém lhes deu um pontapé no traseiro eleitoral para os pôr a mexer deste país ou do governo do mesmo, como fizeram aos tais "fascistas". Continuaram a mandar na intelligentsia jornalística e a mandar na ideologia da Constituição. Até hoje.
Sousa Franco, o fundador do PPD tornado socialista, até dizia na altura ( O Jornal 1 de Dezembro de 1983) que a banca privada e a pública era a mesma coisa e portanto o problema não era a banca...
No entanto, em 15 de Junho de 1984, o mesmo O Jornal já chamava às empresas públicas "elefantes brancos"! Fantástico, sem dúvida, a capacidade desta esquerda em dar a volta ao problema que criaram de modo a que ninguém perceba qual a raiz do mal. "Elefantes brancos" e pronto, está tudo explicado, sem precisar de mais razões.
A par deste experimentalismo social e económico aparecia entretanto outro tipo de experimentalismo que assentou depois arraiais no ISCTE.
É ler e rir porque chorar já nem vale a pena. O estudo que o Expresso de 12 de Março de 1983 publicou dava conta que afinal andamos enganados o tempo todo e o modelo industrial que tínhamos não prestava. Apesar de nos ter feito crescer a taxas fenomenais no tempo de Marcello Caetano, não prestava porque afinal só produzia bancarrotas e elefantes brancos...
Autores do estudo? Além do mais, um rapaz que dali a uns anos teria sérios problemas com quatro ranhosos que resolveram acusá-lo de coisas inomináveis: Ferro Rodrigues.
Outro que dava o palpite mais fantástico era o tal Cravinho, suma instância da inteligência pátria ( era então director de um GEBEI, uma coisa que se anacronizava a estudar "basicamente" a economia industrial...). Dizia então que "era preciso criar outra classe empresarial". Assim como quem cria mulas e machos...
Se isto não é de rir às lágrimas é de chorar pela demência desta malta.
Esta gente que muita outra gente levou a sério não era levado por todos a sério. Por exemplo este não os levava- nem leva, suspeito- minimamente a sério.
Em 1986 ( Semanário de 1 de Março desse ano) traçava o quadro negro das nossas experiências dos últimos dez anos e deitava por terra todas aquelas experiências daqueles génios incompreendidos.