Morreu Cândida Ventura, uma notável do PCP de antanho e que se destacou por ter sido dirigente do PCP e abandonar este partido, com estrondo porque denunciou o carácter totalitário da ideologia perfilhada e os abusos das palavras que passaram a actos nos países de Leste onde viveu.
Seria esta a ocasião para que o público que lê jornais ficasse a saber não só quem foi Cândida Ventura mas principalmente o que a notabilizou.
O obituário do Público de hoje, na última página e sem assinatura, portanto imputável à direcção do periódico, pouco ou nada contribui para informar o leitor sobre o significado daquela individualidade e é um modelo de "langue de bois" como dizem os franceses, ou cassete como se diz por cá em francesismo, mas que se pode melhor entender por jornalismo asséptico que sustenta causas ocultas em que se destaca a hegemonia cultural da esquerda que redige nos jornais.
É muito interessante e exemplar o modo como se consegue fazer um obituário, sem omitir informações relevantes e ao mesmo tempo ocultar a importância de algumas delas.
"Regressou a Portugal no início de 1975 e no ano seguinte consumou a ruptura com o PCP" é a frase que informa acerca daquele afastamento, assim como se a ruptura fosse uma coisa anódina e sem importância de maior. Aliás, "após o afastamento do PCP, manteve a intervenção política e cívica noutros quadrantes político-partidários".
É assim que a história se escreve neste jornalismo de sarjeta ideológica e politicamente motivado: com a omissão e censura pura e simples dos aspectos mais relevantes do que foi e significou Cândida Ventura e da razão porque se fala nela. Não foi certamente por "partilhar" o poder com Álvaro Cunhal, tendo sido sua companheira também. Foi porque rompeu fragorosamente com esse partido acaparado pelo Público e hegemonia cultural desta Esquerda.
E nem se diga que tal informação é desconhecida. Basta clicar no Google com o nome da dita e o acrescento PCP para surgir um sítio com informações relevantes sobre o assunto. O Público não foi ver? Devia porque não encontra tal informação em mais lado algum.
Por isso fica aqui outra vez o postal de 1 de Junho de 2014 para mostrar o nojo deste jornalismo de causas ocultas e submetido à hegemonia cultural esquerdista que se manifesta como o ar to tempo que se respira.
O PCP anda há décadas a mentir às pessoas em geral. Valha a verdade
que só se deixa enganar quem quer, uma vez que a Verdade é tão explícita
que vale o ditado de o pior cego é aquele que não quer ver.
Os
media portugueses de há quarenta anos a esta parte não querem ver, pura e
simplesmente, uma vez que fazem o jogo objectivo do PCP em querer
passar por uma força democrática como as demais da democracia burguesa
quando o não é, em absoluto. Basta ler o que se escreve nos órgãos
oficiosos do PCP, como O Militante, as dissertações várias publicadas em
livros ou proferidas em congressos do Partido para o perceber
claramente e sem qualquer dúvida.
Por isso mesmo é de um fenómeno
estranhíssimo, o que se trata: um partido que não pretende a democracia
burguesa, que convive com a mesma malgré lui e que tudo fará para a
destruir ( tal como supostamente os fascistas o fariam e por isso são
proibidos de se organizarem em partido) e mesmo assim é tolerado,
apoiado como uma força "imprescindível" à democracia e cá vamos cantando
e rindo.
Incrível!
Em 21 de Fevereiro de 1974 o
Diário Popular, no suplemento habitual das quintas-feiras, publicou a
recensão a um livro de Alexandre Soljenitsine, Agosto, 1914,
aproveitando o crítico, Manuel Poppe, para mencionar o regime comunista
na URSS como "totalitarista" e ainda outras considerações suaves mas
firmes sobre o sistema soviético. Ninguém, em 1974, antes do golpe de
Estado, poderia dizer que não sabia que a URSS era um sistema
totalitário, pior que alguma vez o regime de Salazar o fora. E mesmo
assim...vejamos o que aconteceu: Cunhal, o pior dos estalinistas
europeus, foi acolhido como um herói, apesar de chegar desconfiado e
receoso do que lhe poderia suceder ( porque sabia bem que o que queria
não era pera doce para "o nosso povo").
Por força de uma incultura
geral, foi acolhido como um herói da democracia, apesar de ser
exactamente o contrário e encarnar uma personagem totalitária como as
piores que poderia haver.
Ficam aqui as páginas do suplemente literário para perceber que ao lado da crítica de Manuel Poppe apareciam
também recensões críticas a obras de comunistas notórios ou
cripto-comunistas, como Fernando Lopes-Graça e José Gomes Ferreira.
Não
obstante tudo isto e o intenso debate intelectual e social que se
estabeleceu em França nos meses imediatos ao 25 de Abril de 1974, antes e
depois, verifica-se que a liberdade de expressão sobre este assunto era
incomparavalmente superior antes de 25 de Abril de 1974 do que depois.
A
publicação em Portugal do livro Arquipélago do Gulag, 1º volume,
ocorrida em 1975, passou completamente despercebida nos media e nunca se
fez o "desmame " desse tipo de comunismo em Portugal e que o PCP tão
bem incorpora, ainda hoje, de modo fossilizado e incrível.
Em
13 de Julho de 1984, O Jornal publicou uma reportagem de várias páginas
e entrevista, sobre uma "tránsfuga" do comunismo do PCP, Cândida
Ventura e um livro que a mesma publicou ( muito tempo antes de Zita
Seabra assumir o "erro"), "o socialismo que eu vivi" . Assim:
Como
é que o PCP lidava com tudo isto? Primeiro, atacando, como se pode ler
naquele Diário Popular sobre os americanos. E por outro lado, assim,
logo em 1985:
Até
hoje tem sido esta farsa que ninguém está interessado em desmontar,
porque tiveram a sua quota-parte nela. Ou através de familiares
directos, "antifascistas" eventualmente presos pelo regime anterior, ou
porque participaram directamente nela e a prolongam por efeito perverso
de recusa e negação.
Por causa disto estamos como
estamos, com três bancarrotas ás costas e mais outra que se prenuncia se
esta gente chegar ao poder.
Felizmente nem toda a gente partilha desta hegemonia cultural e para sabermos mais temos que procurar quem nos sabe dizer melhor: Zita Seabra, precisamente. O artigo do Observador, aliás, é do Público de 20.8.2008. Ainda era director José Manuel Fernandes...
E repare-se neste paradoxo: alguns podem argumentar que para saber isto foi necessário fazer o 25 de Abril de 1974, justificando assim a luta do PCP. Mas não é, porque é precisamente este partido quem faz uma censura mais feroz e sectária a estes factos e acontecimentos, sem qualquer pudor. E sempre foi assim, desde a obliteração literal de imagens a censura completa e definitiva em publicações, punido os infractores com gulags ou hospitais psiquiátricos, por serem, naturalmente, doidos.