quarta-feira, dezembro 21, 2016

Uma Cornucópia de esquerdistas



"O gesto inesperado de Marcelo Rebelo de Sousa em aparecer naquela que deveria ser a última sessão da Cornucópia pode ter salvo a companhia da extinção imediata, mas abriu uma nova frente de polémica. É que o Presidente da República afirmou que tinha ido ao primeiro espectáculo da Cornucópia, em 1973. 

Algo que o encenador Jorge Silva Melo veio desmentir no Facebook, com uma mensagem em que chama "mentiroso" a Marcelo. O homem que fundou a Cornucópia com Luís Miguel Cintra garante que o Presidente não foi ao espectáculo de estreia da Cornucópia: "O Marcelo diz que foi à estreia de "O Misantropo" em 1973? Hã? Ca mentiroso, jasus.É que era eu que tratava dos bilhetes, tenho memória infalível, era a nossa estreia e sei lindamente quem foi (muitos já morreram...)" 
 E, para apimentar ainda mais a trama, Silva Melo chama o primeiro-ministro à discussão. É que Silva Melo lembra-se de que António Costa foi ver o espectáculo com a mãe: "Viste-o por lá, ó António Costa? E a tua mãe e minha amiga Maria Antónia?", pergunta Silva Melo."


 Em 1973 o teatro em Portugal era uma das artes em que a gesnte da cultura esquerdista se acoitava para para minar os alicerces do regime. 
Apesar da Censura então existente a mensagem cultural esquerdista passava sem dificuldades de maior entre os cultores do género e muitos dos artistas de então continuaram ao longo dos anos a representar para um público que foi diminuindo à velocidade do progresso tecnológico.

O teatro da Cornucópia foi um desses grupos, entre outros que então existiam e faziam espectáculos em salas de bairro. 

O historial do grupo é contado aqui pelos próprios, sem a patine do tempo. 

Por aí se vê que a primeira peça encenada e representada pelo grupo foi  O Misantropo de Molière.
Conforme agora escrevem revisitando a História, a escolha de tal peça do repertório "clássico" ficou a dever-se ao terrível fassismo ("condicionado pela censura fascista"...)

Um dos fundadores iniciais da troupe foi Jorge Silva Melo ( a par de Luís Miguel Cintra), o mesmo que agora apelida o presidente da República de "ca mentiroso" por, segundo as suas memórias, não ter ido à estreia da primeira peça, como terá dito.  

Vamos primeiro ao "fassismo" como factor inibidor das actividades culturais esquerdistas da época.

A par da Cornucópia, fundada em finais de 1973, havia já em acção vários grupos de teatro que representavam peças de outro género que desmentem mais esta palermice idiota, como os Bonecreiros com  "A grande imprecação diante das muralhas da Cidade", do alemão Tankred Dorst e que o próprio PCP considerou em 2004 ter sido "uma brecha aberta na rude muralha fascista que meses depois havia de ser derrubada pelo povo".  

Também de Tankred Dorst, a peça A curva, foi levada a cena pelo Grupo4, ( Rui Mendes, Irene Cruz, João Lourenço e Morais e Castro) e lidava com temas que aparentemente a Censura fassista não deveria tolerar na concepção tola destes revisionistas da História. Esta premência estúpida em diabolizar o tempo anterior ao 25 de Abril de 1974 leva às falsificações históricas, ao revisionismo da própria memória e à descredibilização completa destes  indivíduos que assim se expõem.

No grupo A Comuna-Teatro de Pesquisa, havia a intervenção do "dramaturgo" Nuno Bragança, um "católico progressista" ( deram todos no MES...) e as obras levadas a cena reflectiam esse espírito progressista da época com censura fassista.

E por aí fora...como se mostra nestes recortes da revista Cinéfilo, de 11 de Outubro de 1973, no seu número 2 e que mostra bem o que foi esta gesta do teatro contra o fassismo.


Quanto ao grupo da Cornucópia e à sua estreia coincidiu tal com a publicação deste número do Cinéfilo de Outubro de 1973 e disso se dá conta. A peça estreou em 13 de Outubro de 1973, um Sábado e era muito recomendada pela qualidade profissional dos actores. 



Também a revista R&T que então se publicava, na sua resenha de fim de ano mencionava a peça e o grupo .


E o jornal o Século, representante do fassismo mas com articulistas como o comunista Urbano Tavares Rodrigues também o mencionou na edição de 1 de Janeiro de 1974, com "uma última menção de alto louvor":




Tal como mencionava  no artigo da R&T uma síntese de peças de Arrabal, na peça Cemitério de Automóveis e no artigo do Século o carácter da peça que "vai ao encontro do mais profundo Arrabal, místico, escatológico, num clima de denúncia dos tabus e revolta infrene".
Enfim, tudo características de um Arrabal que só poderia ser  um perigoso fassista, como é sabido e só por isso foi possível representá-lo no Portugal de 1973...

Perante isto o que diz Jorge Silva Melo sobre o "ca mentiroso" vale tanto como o que diz sobre o resto, lá no sítio do grupo de teatro: pouco, muito pouco.
Mas é interessante e evidente que a senhora Palla não poderia ter faltado à estreia destes esquerdistas nos idos de 1973.

Torna-se aliás muito interessante revisitar estes jornais de época em que se espelha um predomínio esquerdista na área da cultura que explica de algum modo o que sucedeu depois do golpe de 25 de Abril de 1974.

O jornal socialista maçónico República, já então dirigido por Raul Rego fazia na sua edição de 31 de Dezembro de 1973 uma apreciação sobre o teatro da época em Portugal, destacando a peça da Cornucópia. Assim e de modo que não se suscitam dúvidas sobre o facto de ter sido uma peça escolhida por se adequar ao critério de qualidade e não apenas como refugo por não poderem representar outras peças que o fassismo não deixava, como agora se lamuriam em revisionismo histórico:


Em entrevista à mesma revista Cinéfilo nº 17 de 24 de Janeiro de 1974 o fundador Jorge Silva Melo dizia mesmo que O Misantropo tinha sido escolhido porque provou que era-é- possível fazer o teatro que queríamos, quer ao nível estético, quer ao nível pessoal"

Dizer agora na página do grupo que este género de peças era escolhido por não se poderem representar outras é digno de um Marcelo Rebelo de Sousa...

E anunciar a peça seguinte, A Ilha de Escravos de Marivaux, escrevendo o que se pode ler é a prova disso mesmo.


ado de Marcelo Rebelo de Sousa em aparecer naquela que deveria ser a última sessão da Cornucópia pode ter salvo a companhia da extinção imediata, mas abriu uma nova frente de polémica. É que o Presidente da República afirmou que tinha ido ao primeiro espetáculo da Cornucópia, em 1973. Algo que o encenador Jorge Silva Melo veio desmentir no Facebook, com uma mensagem em que chama "mentiroso" a Marcelo. O homem que fundou a Cornucópia com Luís Miguel Cintra garante que o Presidente não foi ao espetáculo de estreia da Cornucópia: "O Marcelo diz que foi à estreia de "O Misantropo" em 1973? Hã? Ca mentiroso, jasus.É que era eu que tratava dos bilhetes, tenho memória infalível, era a nossa estreia e sei lindamente quem foi (muitos já morreram...)" E, para apimentar ainda mais a trama, Silva Melo chama o primeiro-ministro à discussão. É que Silva Melo lembra-se de que António Costa foi ver o espetáculo com a mãe: "Viste-o por lá, ó António Costa? E a tua mãe e minha amiga Maria Antónia?", pergunta Silva Melo.

Ler mais em: http://www.cmjornal.pt/politica/detalhe/silva-melo-chama-mentiroso-a-marcelo-rebelo-de-sousa-em-causa-a-presenca-do-presidente-na-estreia-da-cornucopia-em-1973
O gesto inesperado de Marcelo Rebelo de Sousa em aparecer naquela que deveria ser a última sessão da Cornucópia pode ter salvo a companhia da extinção imediata, mas abriu uma nova frente de polémica. É que o Presidente da República afirmou que tinha ido ao primeiro espetáculo da Cornucópia, em 1973. Algo que o encenador Jorge Silva Melo veio desmentir no Facebook, com uma mensagem em que chama "mentiroso" a Marcelo. O homem que fundou a Cornucópia com Luís Miguel Cintra garante que o Presidente não foi ao espetáculo de estreia da Cornucópia: "O Marcelo diz que foi à estreia de "O Misantropo" em 1973? Hã? Ca mentiroso, jasus.É que era eu que tratava dos bilhetes, tenho memória infalível, era a nossa estreia e sei lindamente quem foi (muitos já morreram...)" E, para apimentar ainda mais a trama, Silva Melo chama o primeiro-ministro à discussão. É que Silva Melo lembra-se de que António Costa foi ver o espetáculo com a mãe: "Viste-o por lá, ó António Costa? E a tua mãe e minha amiga Maria Antónia?", pergunta Silva Melo.

Ler mais em: http://www.cmjornal.pt/politica/detalhe/silva-melo-chama-mentiroso-a-marcelo-rebelo-de-sousa-em-causa-a-presenca-do-presidente-na-estreia-da-cornucopia-em-1973

10 comentários:

Floribundus disse...

Insurgente

A Carris registou um resultado líquido negativo de 19,2 milhões, mais 4,8 milhões (ou 34%) do que está orçamentado, enquanto na STCP os prejuízos de 20,2 milhões superam em 56% (7,2 milhões) o estimado. No caso da Metro do Porto, as perdas ultrapassam os 123,9 milhões, superando em 41,5 milhões (50%) o objectivo. E no Metropolitano de Lisboa, o prejuízo era em Junho de 47,4 milhões, superior em 92% ao previsto.

verdadeira corno cópia

joserui disse...

Estive a ler, muito interessante e certo como sempre, mas… o presidente Marcelo, consta-me que é um mentiroso compulsivo. Não me admira que tenha inventado mais uma patranha (nem vice-versa neste caso). Mas retenho também o seguinte: Pode ser uma cornucópia de esquerdistas, mas lá está o Marcelo a distribuir afectos, tal como os foi distribuir ao DN e por todo o lado. O espertalhão Marcelo sabe que é com a esquerda que tem de aparecer.
E por falar em esquerda, ontem no Observador lá estava a Mariana em destaque… como o BE tem pouco tempo de antena e aparece pouco, dizem os do observador que foram beber cerveja com a Mariana, mas ela só bebeu água. Deve querer estar sóbria para a missa do galo. -- JRF

Neo disse...

Parece que o tal Silva Melo a contar Histórias não é menos mentiroso que o beijocrata de Belém :)
O Marcelo aceitou a revolução, mas esta não o aceita. Ahahaha!

Floribundus disse...

Bloomberg

BANKING
European Banks Risk Becoming Irrelevant
4DEC 21, 2016 2:13 AM EST
By
Mark Gilbert
Any conversation with a European bank executive these days quickly turns to talk of how their U.S. rivals are in better shape. American banks were much quicker in bolstering their capital bases after the financial crisis; they also have more regulatory certainty (in part because they didn’t challenge every proposed rule change). And in at least one corner of the financial markets, Europeans are ceding market share at an accelerating rate.

PR fala às 18.30
já conmheço o 'testo'

USD=€ 'mal e parca mente'

Floribundus disse...

NET~

O sensacional êxito de um livro com o título Deutschland schafft sich ab.
Wie wir unser Land aufs Spiel setzen («A Alemanha está a anular‑se. Como arris‑
camos o futuro do nosso país») é sintomático do estado de espírito que se faz
sentir actualmente na Alemanha. Só nos três primeiros meses que se seguiram
à sua publicação o livro de Thilo Sarrazin, um antigo alto funcionário e político,
vendeu um milhão e meio de exemplares. Provavelmente, não terá sido lido com
o devido rigor, mas a discussão que gerou foi intensa e animada. Salpicado de
tabelas e estatísticas, o livro pretende provar que a Alemanha está a extinguir‑se,
que se está a entregar, isto é, a estrangeirar, a perder a sua identidade e a sua
soberania, porque os «estúpidos muçulmanos» têm mais filhos do que os «esper‑
tos alemães». O livro pertence ao género da literatura do declínio, que Tácito
fundou com a sua indignada repreensão dirigida aos romanos decadentes e que
na Alemanha produziu, com a Decadência do Ocidente de Oswald Spengler, uma
obra emblemática do pessimismo cultural. No entanto, o livro de Sarrazin, tão
entusiasticamente aclamado pelos chamados críticos do Islão, não argumenta ao
alto nível da filosofia social, como o fez anteriormente Oswald Spengler.

o rectângulo só existe territorialmente

zazie disse...

ehehe

Ja o arrumou

joserui disse...

Entretanto o JN noticiando da terra da fantasia diz que "Portugueses vão ter o Natal mais farto desde há seis anos" e é bem capaz de ter razão. Tem sido um fartar vilanagem. Eu próprio ando farto, se não fosse o Porta da Loja a dar-me algumas alegrias ia ser um Natal farto de tudo :) . -- JRF

josé disse...

Ora se esta chafarica tem assim um efeito tão lenitivo, fico satisfeito.

Amanhã vou publicar umas coisas curiosas que descobri nos Cinéfilos que tenho por cá.

Portugal é um sítio onde todos se conhecem há dezenas de anos e só me espanto como continuam a conviver os mesmos de sempre, com as mesmíssimas ideias de sempre.

Impressionante.

josé disse...

Ora bolas! Afinal já tinha publicado

joserui disse...

Chafarica… tomaram muitos "sítios" de referência, muito jornal, rádio e televisão. Aprendo mais aqui do que com essa parolada toda junta e por atacado. -- JRF

A obscenidade do jornalismo televisivo